domingo, 20 de janeiro de 2008

Crônica de Amor - Arnaldo Jabor

"...Você deu flores que ela deixou a seco,
você levou para conhecer a sua mãe e ela foi de blusa
transparente. Você gosta de rock e ela de chorinho,
você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você
abomina o Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio
vocês combinam.
Então?
Então que ela tem um jeito de sorrir que o
deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que
LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com
você. Isso tem nome.
Ele não tem a menor vocação para príncipe
encantado, e ainda assim você não consegue despachá-lo.
Quando a mão dele toca sua nuca, você derrete
feito manteiga. Ele toca gaita de boca, adora animais e
escreve poemas.
Por que você ama este cara?
Não pergunte pra mim.
Você é inteligente. Lê livros, revistas,
jornais...Gosta dos filmes de Woody Allen, dos irmãos
Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia
romântica também tem seu valor. É bonita. Seu cabelo
nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu
corpo tem todas as curvas no lugar.
Independente, emprego fixo, bom saldo no
banco. Gosta de viajar, de música tem loucura por
computador e seu fettuccine ao pesto é imbativel. Você
tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo.

Com um currículo desses, criatura, por que diabo está
sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados. Não funciona assim. Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não-fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo à porta.
O amor não é chegado a fazer contas, não obedece a razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar. Costuma ser despertado mais pelas flechas do cupido do que por uma ficha limpa. Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano ( O amor é lindo...).
Isso são só referências.
Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos tem às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó. Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é..."

(Arnaldo Jabor)

Um comentário:

Anônimo disse...

O amor é isso mesmo - diferença!! Só nas diferenças se percebe o respeito que existe entre duas pessoas..

bjo*