domingo, 23 de março de 2008

Este Quarto - Mário Quintana


Este quarto de enfermo,

tão deserto de tudo,

pois nem livros eu já leio

e a própria vida eu a deixei no meio

como um romance que ficasse aberto...

que me importa esse quarto,

em que desperto

como se despertasse em quarto alheio?

Eu olho é o céu!

Imensamente perto,

o céu que me descansa como um seio.

Pois só o céu é que está perto,

sim,

tão perto e tão amigo que parece

um grande olhar azul pousado em mim.

A morte deveria ser assim:

um céu que pouco a pouco anoitecesse

e a gente nem soubesse que era o fim...

(Mário Quintana)

Um comentário:

John D. Godinho disse...

This Sickroom

This sickroom is as barren as my day;
I don’t even read my books anymore.
And my life, since I can’t live it as before,
is like a novel I stopped reading halfway…

Why should I care about this room where I awake
feeling I’m in a stranger’s room, by mistake?
I care about the sky out there, endlessly near,
a sky that comforts me, and soothes my every fear,

The presence of the sky is what I feel and see,
so close and friendly that it seems to be
a great blue loving gaze embracing me.

This is how death should be: it could pretend
to be a sky that gently darkened into night
and we wouldn’t even know it was the end…

Mario Quintana
(Translated by John D. Godinho)
Este quarto ( This sickroom) in Notes on
Supernatural History