sexta-feira, 30 de novembro de 2007

O Pescador e o Peixe - J. P. Spilmont




Um dia, um pescador pegou um peixe magnífico.
Preparava-se para enfiá-lo em seu saco, quando ouviu o peixe implorar:
-Sê bom. Joga-me de novo na água... se fizeres isso, atenderei a todos os teus pedidos
O pescador era pobre. Pensou primeiro que seria ridículo devolver à água tão bela presa. No entanto, após um momento de hesitação, devolveu a liberdade ao animal.
-Promessa é dívida, disse o peixe. O que desejas de mim?
-Que minha casa seja agradável e quente, disse o pescador
-Não seja este o problema, disse peixe. Volta para tua casa.
E o pescador regressou à sua moradia, que estava ainda mais agradável do que ele sonhara. Lá, sua mulher o esperava. Ele lhe contou o que se passara.
-Tu és realmente um burro, disse a mulher. Não podias ter pedido um castelo?
-Não pensei nisso, disse o pescador.
Voltou ao rio e chamou o peixe, que logo saiu da água.
-Minha mulher prefiriria um castelo, disse o pescador um pouco encabulado.
-Não seja este o problema, disse o peixe. Volta para tua casa.
O castelo estava lá. O castelão e a castelã viveram alguns anos em perfeita felicidade. Depois, a mulher do pescador começou a se aborrecer. Seu castelo era triste. Faltavam-lhe festas. Faltava-lhe uma corte...Faltava-lhe ser rainha!
Então o pescador voltou ao rio.
-Minha mulher gostaria de ser rainha, disse ele ao peixe.
-Não seja este o problema, disse o peixe. Volta para a tua casa.
O rei e a rainha tiveram uma corte magnífica. Eram, sem dúvida, os monarcas mais poderosos do mundo. No entanto, no meio do ouro e das festas, a rainha começou a ficar triste, pensando que existia alguém em Roma, ainda mais poderoso do que eles. Ora essa! O Papa detinha poderes de que eles jamais poderiam desfrutar...
Então, certa manhã, o rei voltou ao rio onde ele ia pescar em seus tempos de pobreza. O peixe parecia esperar por ele.
-É terrível, disse o rei, minha mulher deseja ser a pessoa mais poderosa da Terra. Ela gostaria de...
-De quê? Perguntou o peixe.
-Ela gostaria de ser Papisa, respondeu o pescador com voz sumida.
-Não seja este o problema, disse o peixe. Volta para tua casa.
Tornando-se Papisa, a mulher do pescador reinava sobre o espiritual e o temporal. Seus desejos estavam finalmente satisfeitos. Mas isso durou pouco tempo. Faltava apenas uma etapa, uma só, para alcançar a felicidade suprema... talvez o peixe pudesse... quem sabe...
Então o pescador retomou o caminho que levava à sua casa antiga. Dirigiu-se à margem do rio, Chamou o peixe.
-Que queres? Perguntou este.
-Um pedido... um último pedido... Minha mulher gostaria de se tornar...
-O quê? Perguntou o peixe.
-Deus, murmurou o pescador.
-Volta para tua casa, disse o peixe.
O pescador foi embora. A algumas centenas de metros daquele lugar, a mulher o esperava na soleira da sua velha casa, banhada em lágrimas, mal vestida, como no tempo de sua miséria.

(J.-P. Spilmont)