terça-feira, 20 de novembro de 2007

Adotarei o amor - Gibran Kalil Gibran

Adotarei o amor por companheiro e o escutarei cantando, e o beberei como vinho, e o usarei como vestimenta.
Na aurora, o amor me acordará e me conduzirá aos prados distantes.
Ao meio dia, conduzir-me-á à sombra das árvores onde me protegerei do sol como os pássaros.
Ao entardecer conduzir-me-á ao poente, onde ouvirei a melodia da natureza despedindo-se
da luz, e contemplarei as sombras da quietude adejando no espaço.
À noite, o amor abraçar-me-á, e sonharei com os mundos superiores onde moram as almas dos enamorados e dos poetas.
Na primavera, andarei com o amor, lado a lado, e cantaremos juntos entre as colinas; e seguiremos as pegadas da vida, que são as violetas e as margaridas; e beberemos a água da chuva, acumulada nos poços, em taças feitas de narciso e lírios.
No verão, deitar-me-ei ao lado do amor sobre camas feitas com feixes de espigas, tendo o firmamento por cobertor e a lua e as estrelas por companheiras.
No outono, irei com o amor aos vinhedos e nos sentaremos no lagar, e contemplaremos as árvores se despindo das suas vestimentas douradas e os bandos de aves migratórias voando para as costas do mar.
No inverno, sentar-me-ei com o amor diante da lareira e conversaremos sobre os acontecimentos dos séculos e os anais das nações e povos.
O amor será meu tutor na juventude, meu apoio na maturidade, e meu consolo na velhice.
O amor permanecerá comigo até o fim da vida, até que a morte chegue, e a mão de Deus nos reúna de novo.

(Gibran Kalil Gibran)


Gibran Kahlil Gibran, assim assinava em árabe. Em inglês, Khalil Gibran. É mais comumente conhecido sob o simples nome de Gibran.

A Amizade - Gibran Khalil Gibran


Vosso amigo é a satisfação de vossas necessidades.
Ele é o campo que semeais com carinho e ceifais com agradecimento.
É vossa mesa e vossa lareira.
Pois ides a ele com vossa fome e procurais em busca de paz.
Quando vosso amigo expressa seu pensamento,
não temais o "não" de vossa própria opinião, nem prendais o "sim".
E quando ele se cala, que vosso coração continue a ouvir seu coração,
porque na amizade, todos os desejos,
ideais, esperanças, nascem e são partilhados sem palavras,
numa alegria silenciosa.
Quando vos separais de vosso amigo,
não vos aflijais.
Pois o que amais nele pode tornar-se mais claro na sua ausência,
como para o alpinista a montanha aparece mais clara,
vista da planicie.
E que não haja outra finalidade na amizade
a não ser o amadurecimento de espirito.
Pois o amor que procura outra coisa a não ser a revelação
de seu próprio mistério não é amor, mas uma rede armada,
e somente o inaproveitavel é nela apanhado.
E que o melhor de vos próprios seja para vosso amigo.
Se ele deve conhecer o fluxo de vossa maré,
que conheça também o seu refluxo.
Pois,
que achais seja vosso amigo para que o procureis
somente a fim de matar o tempo?
Procurai-o sempre com horas para viver:
O papel do amigo é encher vossa necessidade,
não vosso vazio.
E na docura da amizade,
que haja risos e o partilhar dos prazeres.
Pois no orvalho de pequenas coisas,
o coração encontra sua manhã e sente-se refrescado.


(Gibran Khalil Gibran)
(1883-1931)

O AMOR - Gibran Khalil Gibran

Então, Almitra disse: “Fala-nos do amor.”E ele ergueu a fronte e olhou para a multidão, e um silêncio caiu sobre todos, e com uma voz forte, disse:

Quando o amor vos chamar, segui-o, embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados; e quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe, embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos; e quando ele vos falar, acreditai nele, embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos como o vento devasta o jardim. Pois, da mesma forma que o amor vos coroa, assim ele vos crucifica.


E da mesma forma que contribui para vosso crescimento, trabalha para vossa queda. E da mesma forma que alcança vossa altura e acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol, assim também desce até vossas raízes e as sacode no seu apego à terra.

Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração. Ele vos debulha para expor vossa nudez. Ele vos peneira para libertar-vos das palhas. Ele vos mói até a extrema brancura. Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis. Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma no pão místico do banquete divino.

Todas essas coisas, o amor operará em vós para que conheçais os segredos de vossos corações e, com esse conhecimento,vos convertais no pão místico do banquete divino.Todavia, se no vosso temor, procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor, então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez e abandonásseis a eira do amor, para entrar num mundo sem estações, onde rireis, mas não todos os vossos risos, e chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.

O amor nada dá senão de si próprio e nada recebe senão de si próprio.
O amor não possui, nem se deixa possuir. Porque o amor basta-se a si mesmo.
Quando um de vós ama, que não diga:"Deus está no meu coração", mas que diga antes:"Eu estou no coração de Deus".

E não imagineis que possais dirigir o curso do amor,pois o amor, se vos achar dignos, determinará ele próprio o vosso curso.

O amor não tem outro desejo senão o de atingir a sua plenitude. Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos, sejam estes os vossos desejos: De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho que canta sua melodia para a noite; de conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada; de ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor e de sangrardes de boa vontade e com alegria; de acordardes na aurora com o coração alado e agradecerdes por um novo dia de amor; de descansardes ao meio-dia e meditardes sobre o êxtase do amor; de voltardes para casa à noite com gratidão; e de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado, e nos lábios uma canção de bem- aventurança.

(Gibran Kahlil Gibran)

O AMOR - Gibran Khalil Gibran
http://www.youtube.com/watch?v=sduEq3kM3uY&feature=related

Divina Música - ~ Do Livro "A Voz do Mestre" ~ Gibran Khalil Gibran

Filha da alma e do amor. Cálice da amargura e do Amor. Sonho do coração humano, fruto da tristeza. Flor da alegria, fragrância e desabrochar dos sentimentos. Linguagem dos amantes, confidenciadora de segredos. Mãe das lágrimas do amor oculto. Inspiradora de poetas, de compositores e dos grandes realizadores. Unidade de pensamento dentro dos fragmentos das palavras. Criadora do amor que se origina da beleza. Vinho do coração que exulta num mundo de sonhos. Encorajadora dos guerreiros, fortalecedora das almas. Oceano de perdão e mar de ternura. Ó música. Em tuas profundezas depositamos nossos corações e almas. Tu nos ensinaste a ver com os ouvidos e a ouvir com os corações.
(Gibran Khalil Gibran)

Da Música - Gibran Kahlil Gibran


Sentei-me ao pé daquela que meu coração ama, e ouvi suas palavras.
Minha alma começou a vaguear pelos espaços infinitos
onde o universo aparecia como um sonho,
e o corpo como uma prisão acanhada.
A voz encantadora de minha Amada penetrou em meu coração.
Isto é música, amigos, pois eu a ouvi através dos suspiros daquela que amo,
e pelas palavras balbuciadas por seus lábios.
Com os olhos de meus ouvidos, vi o coração de minha Amada.
Meus amigos: a Música é a linguagem dos espíritos.
Sua melodia é como uma brisa saltitante que faz nossas cordas estremecerem de amor.
Quando os dedos suaves da música tocam à porta de nossos sentimentos,
acordam lembranças que há muito jaziam escondidas nas profundezas do passado.
Os acordes tristes da Música trazem-nos dolorosas recordações;
e seus acordes suaves nos trazem alegres lembranças.
A sonoridade de suas cordas faz-nos chorar à partida de um ente querido
ou nos faz sorrir diante da paz que Deus nos concedeu.
A alma da Música nasce do espírito e sua mensagem brota do Coração.
Quando Deus criou o Homem,
deu-lhe a Música como uma linguagem diferente de todas as outras.
Mesmo em seu primarismo, o homem primitivo curvou-se à glória da música;
ela envolveu os corações dos reis e os elevou além de seus tronos.
Nossas almas são como flores tenras à mercê dos ventos do Destino.
Elas tremulam à brisa da manhã e curvam as cabeças sob o orvalho cadente do céu.
A canção dos pássaros desperta o Homem de sua insensibilidade,
e o convida a participar dos salmos de glória à Sabedoria Eterna,
que criou a melodia de suas notas.
Tal música nos faz perguntar a nós mesmos o significado dos mistérios
contidos nos velhos livros.
Quando os pássaros cantam,
estarão chamando as flores nos campos,
ou estão falando às árvores, ou apenas fazem eco ao murmúrio dos riachos?
Pois o Homem, mesmo com seus conhecimentos,
não consegue saber o que canta o pássaro,
nem o que murmura o riacho,
nem o que sussurram as ondas
quando tocam as praias vagarosa e suavemente.
Mesmo com sua percepção, o homem não pode entender o que diz a chuva
quando cai sobre as folhas das árvores, ou quando bate lentamente nos vidros das janelas.
Ele não pode saber o que a brisa segreda às flores nos campos.
Mas o coração do homem pode pressentir e entender
o significado dessas melodias que tocam seus sentidos.
A Sabedoria Eterna sempre lhe fala numa linguagem misteriosa;
a Alma e a Natureza conversam entre si, enquanto o Homem permanece mudo e confuso.
Mas o Homem já não chorou com esses sons?
E suas lágrimas não são, porventura, uma eloqüente demonstração?

(Gibran Kahlil Gibran) – O Poeta do amor – 1888 - 1931

Do Primeiro Olhar - Gibran Khalil Gibran

É aquele momento em que a vida passa da sonolência para a alvorada...
É a primeira chama que ilumina o íntimo mais profundo do coração...
É a primeira nota mágica arrancada das cordas de prata do sentimento...
É aquele momento instantâneo em que se abrem diante da alma as
crônicas do Tempo, e se revelam aos olhos as proezas da noite, e as vozes
da consciência. Ele é que abre os segredos da Eternidade para o futuro...
É a semente lançada por Ishtar, deusa do Amor, e espargida pelos olhos do
ser amado na paisagem do Amor, depois regada e cuidada pela afeição, e
finalmente colhida pela alma.
O primeiro olhar vindo dos olhos do ser amado é como o espírito que se movia
sobre a face das águas e deu origem ao céu e à terra, quando o Senhor sentenciou: "E agora, vivei!"

(Gibran Khalil Gibran)

Do Casamento - Gibran Kahlil Gibran


Aqui o Amor começa a traduzir a prosa da vida em hinos e cânticos de louvor,
com música que é preparada à noite
para ser cantada durante o dia.
Aqui a força do amor despe-se dos seus véus,
e ilumina todos os recessos do coração,
criando uma felicidade que só é excedida pela da alma
quando se encontra com Deus.
O casamento é a união de duas divindades
para dar nascimento a uma terceira na terra.
É a união de duas almas num amor tão forte
que possa abolir qualquer separação.
É aquela superior unidade que junta as metades antes separadas,
de dois espíritos.
É o elo de ouro de uma cadeia cujo começo é um olhar,
e cujo fim é a eternidade.
É a chuva pura que cai de um céu perfeito
para frutificar e abençoar os campos da divina natureza.
Assim como o primeiro olhar entre os que se amarão
é como uma semente lançada no coração humano,
e o primeiro beijo de seus lábios uma flor nos ramos da árvore da vida,
também a união de dois amantes pelo casamento
é como o primeiro fruto da primeira flor daquela semeadura.
(Gibran Kahlil Gibran)O Poeta do amor (1888 - 1931)

Do Primeiro Beijo - Gibran khalil Gibran

É o primeiro gole de néctar da Vida, numa taça ofertada pela divindade...
É a linha divisória entre a dúvida que engana o espírito e entristece o coração, e a certeza que inunda de alegria nosso íntimo...
É o começo da canção da Vida e o primeiro ato do drama do Homem Ideal...
É o vínculo que une a obscuridade do passado com a luminosidade do futuro;
é a ponte entre o silêncio dos sentimentos e a sua própria melodia...
É uma palavra pronunciada por quatro lábios, proclamando o coração um trono, o Amor um rei e a fidelidade uma coroa...
É o toque leviano dos dedos delicados da brisa nos lábios da rosa — pronunciando um longo suspiro de alívio e um suave gemido...
É o começo daquela vibração mágica que transporta os amantes do mundo das coisas e dos seres para o mundo dos sonhos e das revelações...
É a união de duas flores perfumadas; e a mistura de suas fragrâncias, para a criação de uma terceira alma.
Assim como o primeiro olhar é uma semente lançada pela divindade no campo do coração humano, assim o primeiro beijo é a primeira flor nascida na ponta dos ramos da Árvore da Vida.
(Gibran khalil Gibran) – O Poeta do amor – 1888 – 1931