domingo, 23 de março de 2008

Do Livro "O LOUCO" Gibran Kahlil Gibran



Perguntais-me como me tornei louco.
Aconteceu assim:Um dia,
muito tempo antes de muitos deuses terem nascido,
despertei de um sono profundo e notei
que todas as minhas máscaras
tinham sido roubadas - as sete máscaras
que eu havia confeccionado e usado em sete vidas - e corri
sem máscara pelas ruas cheias de gente,
gritando: "Ladrões, ladrões, malditos ladrões!
" Homens e mulheres riram de mim
e alguns correram para casa,
com medo de mim.
E quando cheguei à praça do mercado,
um garoto trepado no telhado de uma casa gritou:
"Êh um louco!".
Olhei para cima, para vê-lo.
O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
Pela primeira vez,
o sol beijava minha face nua,
e minha alma inflamou-se de amor pelo sol,
e não desejei mais minhas máscaras.
E, como num transe, gritei:
"Benditos, benditos ladrões que roubaram minhas máscaras!"
Assim me tornei louco.
E encontrei tanto liberdade como segurança na minha loucura:
a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido,
pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.

(Gibran Kahlil Gibran)


Nenhum comentário: